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Episodio XI - The Big Indromination



À porta do Ministério, Santos, com um ar grave disse a Inácio:

“Olha que se isto correr mal, enterro-te todo. Chibo-te totalmente”

“Santos, porque pode correr mal? Vim de tão longe...Saí do bairro e tudo…Achas que isto vai correr mal?”
“Era só para te avisar…” disse o Santos, rosnando...

Já subiam no elevador, depois de uma cena com a segurança por causa do Inácio não ter nenhum documento que o identificasse.
Realmente só ele acreditava que ele se chamava Inácio.

Uma rapariga nova, fresca, bem vestida e cheirosa, veio recebê-los ao elevador.

Inácio sussurrou ao Santos…
“Mene, por um ambiente destes até eu trabalhava um mesito por ano”

Chegados à porta da sala de reuniões, a secretária convida-os a entrar
...
“O Sr engº já vem…” disse.

Santos ficou de pé muito hirto, enquanto o Inácio se espalhava numa das cadeiras de pele.

“Santos, estes gajo não pode ser bom nos negócios, deixam que os clientes entrem sem ter ninguém na loja”

“Isto é um escritório, Inácio”

“Pior…Têm coisas que nem estão à venda”

Inácio rodava na cadeira e observava em redor
...
“Santos, a sala, tem 1/3 da àrea do bairro. Se fosse minha fazia já aqui umas casitas. Só esta mesa, é do tamanho da marisqueira”

“Cala-te”...Bolsou o Santos.

“Olha, lá achas que os doutoures orientam umas gambas?”….


Com ar jovial e impecávelmente vestido, Tomaz entra na sala, com os papéis na mão, que sempre transporta para não ter um ar abandalhado.
...
“Ora vivam! Estão bons?”
Santos, baixando os olhos cumprimenta a sumidade do Sec. Est.

Inácio, aperta a mão, com um ar natural.

“Ora então trazem-me os valores desta majestosa obra…Não é assim?” Disse Tomaz com um sorriso

“Permita-me que apresente o Engº. Inácio”

Santos nem acreditava no que tinha dito.
Chamou engenheiro ao Inácio? Só podia ser stress!

“Engº? Em que ano se formou?” Pergunta o Secretário de Estado?

“1987”…E não era mentira. Fora o ano em que saíra do reformatório.

Inácio era um personagem que vestia qualquer pele, e não perdeu pela demora de se misturar.

“Ó colega, já viu que a gente forma-se, depois deforma-se e no final reforma-se?”

“Já vi que tem tendências filosóficas”…Disse Tomaz com um sorriso amarelado.

“Sim” diz o Santos “Ele andou muito tempo pelo Oriente”

Também não era mentira porque se houve coisa que o Inácio toda a vida fez, foi “orientar-se”.

Santos estava para morrer.

“Então vamos ao que interessa” disse Tomaz, recostando-se na cadeira.

Santos olhou para o Inácio fazendo-lhe sinal para começar a falar

“Sr. Santos, pode entregar a papelada ao colega”

Santos, esticou a pasta ao Tomaz pensando na melhor maneira de seviciar o Inácio.

Tomaz, abriu e folheou.
Foram os 5 minutos mais angustiantes da vida do Santos…..

“Parece-me bem, mas vamos ver aqui uns pontos…..”disse Tomaz.

Santos, por um lado acalmou, por outro entrou em pânico. O “mas” era a parte pior
...
“Mas quanto tempo pensam que isto pode levar até estarmos preparados para avançar?”

“Podia ser amanhã, mas há uma questão de formação, caro colega” disse Inácio

“Formação?” perguntou Tomaz.

“Sim, há muitos que têm de ser reformados”

“Reformados?”

“Sim tem que aprender muita coisa para isto”

“Sim, parece-me bem…temos que apostar na formação. É isso que nos falta. Não se aposta na formação”…corroborou o Sec. de Estado
.
“Temos um lema: se não te formas, deformo-te”
.
Tomaz olhou para Inácio com um ar assustado…

“Bem”…disse Tomaz..”Os descobrimentos também se fizeram com mão de ferro”….

Santos estava em transe….

“Já vi o que os países que ficam no meridiano do seixal, sao 4: a Inglaterra, a Polónia, a Holanda, e a Espanha e para sul não foram definidos.
" atalhou Tomaz
“Pois não. Depois do Algarve, é tudo Marrocos e os àrabes não estão na moda. Por isso deixámos ao Ministério a escolha dos países por onde vai passar o meridiano. Mesmo que se tenha de fazer um desviozito….”

“Pois, por acaso o Ministério decidiu circunscrever o Meridiano apenas ao espaço Europeu, por uma questão de orçamento e política Europeia”

“Bem visto. Só temos de usar Euros. Trocar esta moeda por Maravedis, era bem fatela”

Santos contorce-se sem ter a certeza do que eram Maravedis….

Maravedis? Essa moeda é de onde?”

“É de longe...Abaixo de marrocos”
Tomaz, não tinha resposta…Ia sempre para Oeste, para as Caraíbas
.
Olhando para o dossier, Tomaz pergunta:
“Diga-me uma coisa, aqui os valores apenas prevêem os primeiros 100 metros de Meridiano, mas irão ser milhares mais”

“Claro…A razão prendeu-se com uma visita ao local, verificámos que o início do Meridiano, é numa curva, o que pode fazer prever uma derrapagem e os custo elevarem-se por despiste”

“Como assim?” perguntou Tomaz.

“Há uma altura em que os homens para içarem um dos postes vão ter de estar na contra mão, o que acarreta custos elevados em termos de seguros”

“Bem visto”...Atalha tomaz
.
Santos, não conseguia acreditar que aqueles dois animais estavam a comunicar…

“Mas os custos tendem a aumentar por cada km, decerto...Não é?” perguntou o Sec. de Estado…

“Colega, sabe bem que não. Estamos a desenrolar cabo, fica sempre mais barato, porque estamos a subtrair. Se o tivéssemos que voltar a enrolar é que tinha um custo enorme, porque era uma soma”

Tomaz, não podia dar parte fraca…….
Sem calculadora era um homem desarmado e contas de cabeça, não eram o seu forte.

“Aqui também não especificaram os kms totais. Acho ser um ponto importante para a avaliacão de custos globais”

“Em princípio eram 56 cms, mas devem ficar nos 24cms”
disse o Inácio...
“24 cms?”….Surpreendeu-se Tomaz

Inácio, era um erudito na arte da treta, mas consultara o Fernandes, que era professor primário e lhe mostrara a distância entre o Pólo Norte e o Pólo Sul.
No mapa eram 56 cm…
Mas na Europa, deviam ser perto de 24….
Mais ou menos 2 azulejos.

“Sim. Trabalhamos em formato reduzido, porque temos menos pessoal para não ter despesas desnecessárias. Por isso fazemos tudo em cms, e depois convertemos na nossa fórmula para espaços maiores. Poupamos muita mão de obra”

“E a nível de material humano? Como é formada a equipa?”

“Uma equipa escolhida a dedo, e alguns a punho”…..

“A punho??” perguntou Tomaz espantado…

“A punho de renda, colega” disse Inácio com um sorriso…

“Bem…Vou analisar isto com o Ministro. Vamos disponibilizar uma verba para esta 1ª fase, uma vez que baseados neste documento já estamos numa fase adiantada….mas teremos de aguardar as ordens do Ministro para vançarmos na sua globalidade. Não vos preciso de dizer que tudo isto faz parte do segredo dos Deuses.”

“Permita-me uma sugestão, caro colega…”

“Diga”

“Quando disponibilizar a verba, faça como um donativo a uma instituição do Bairro 9971. Assim poupa nos impostos e consegue-se mais uns metros de arame…”

“Mas isso não é illegal?”

“Desde quando é illegal ajudar crianças?”
Tomaz, sentiu-se a pactuar num crime…..

“Também lhe digo que esticar um varal de roupa com o comprimento da Europa deve ser crime….e a gente tenta…” disse Inácio, arrumando a cadeira.

Percebeu a analogia.
...
No fundo o Engº Inácio tinha razão
...
Tomaz levantou-se agarrou nos papéis que sempre o acompanham e nos nos novos,que eram bem-vindos e fez as despedidas...
“Santos, estou contente com o trabalho que têm prestado a esta obra.Temos uma agência de Comunicação a preparar o lançamento do evento. Vai ser uma coisa enormemente publicitada. Em todos os meios. Pela vossa parte parece-me que não temos problemas. Aguardem as nossas notícias…Mas continuem o trabalho. Um obrigado a todos.”

Santos baixou os olhos e despediu-se….

“Adeus, caro colega” disse Tomaz despedindo-se do Inácio
.
“Hasta la vista, colega” disse Inácio
.
Santos, empalideceu…

Sairam ambos do Ministério.