Wednesday

Episódio I - Abel e a ideia maravilhosa.



Amanhecera.
O sol espalhava as sombras para poente.
Abel, ainda não se tinha deitado. Fora uma longa noite em branco, no mais dos escuros momentos da sua vida.
Abel era um mero funcionário público, há cerca de 20 anos no Ministério. Fazia o essencial e ponto. Picava o ponto e ponto final. Um ponto final, foi o que lhe quiseram pôr na carreira.

"Ou trazes uma boa ideia, amanhã, ou vais para a lista dos disponíveis" disse-lhe o chefe.

Não queria acreditar no que estava acontecer...depois de tantos anos de dedicação e tantas boas pontuações no Tetris, era assim que o chefe o tratava?
Pois bem, fosse como fosse, era o que tinha de fazer...Uma missão... Ter uma ideia!
Mas como?...Abel, embora não fosse parvo, usara tão pouco os neurónios, que ainda traziam o plástico que os embrulhava. Nessa noite em casa, sentiu-se deprimido. Muito, mesmo muito. Ao fazer zapping, pelos canais impróprios para as mentes sãs, deparou-se com um programa de culinária.....
Era um programa sobre enchidos tradicionais, das mais variadas regiões do nosso belo País....Alheiras, chouriços, farinheiras, morcelas...
Morcelas?

Abel saltou do empenado sofá e correu ao armário das tretas de praia para onde atirara tudo das férias de 1985.
Vasculhou na imensidão de porcarias e regressou à sala com um insuflável, com a representaçao da Terra. Apressadamente, soprou o mais que pode até o encher. Pousou-o sobre a mesa.
Ficou a olhar para aquela Terra cheia de ar, com a imagem da morcela na memória. Assim ficou horas, até o Sol lhe atirar a manhã à cara.

Ensonado, mas feliz, apanhou o 47, antes de ser apanhado em falta, pelo chefe....

Eram exactamente 12 horas, quando o chefe entrou, a queixar-se do trânsito, e de que este País não ia a nenhum lado...nada mais do que o habitual...
Abel, olheirento, mas feliz, bateu levemente na porta do gabinete do chefe.

"Chefe, podemos conversar?"
"Abel, só se for rápido, porque tenho de ir almoçar"

O chefe era um inútil da mais fina estirpe. Subira pelo tempo de permanência nas folhas de pagamento, e não pelo tempo a trabalhar. Aliás, a única pessoa que se lembra de o ver fazer algo importante, já se tinha reformado há muito tempo. Dizia-se que o chefe tinha mais horas de atraso do que de vida...
Mas, o sr. Santos era mais conhecido pelo Sandes, derivado ao peculiar facto de adorar couratos no pão. O personagem espalhava-se tanto na vertical, como na linha do horizonte. Melhor dizendo, era pouco menos que uma esfera com mãos e sapatos fora de moda. No escritório diziam "Se o Sandes tropeçar no Princípe Real, acaba a boiar no Tejo"...

Acedeu a fazer uma reunião com o Abel. Era uma coisa que os Srs. Drs. faziam muito. Só lhe ficava bem...

“Então conta, Abel.." disse ele cruzando os dedos
"Imagine que me ocorreu algo incrível"
"O quê?” , perguntou o Santos. “Conseguiste escrever o teu nome sem te enganares?" Risos...por parte do Santos
"Não, Sr. Santos, nada disso”, retorquiu o Abel….”Tive a tal ideia que me pediu"
"Que ideia, pá?"
"A de uma coisa para apresentarmos ao Sr. Ministro, para promover a nossa imagem, a imagem do nosso País, internacionalmente"
"Ó, Abel...olha que o Sr. Ministro, é Dr. e Pré-Licenciado, desde 1979 e é uma pessoa que fala com Engenheiros e outros estudiosos"
Era verdade, ao Ministro só lhe faltava falar...entre outras coisas, do seu afastamento, mas isso era coisa que não fazia intenção...

"Eu sei", disse o Abel, "mas isto, é uma ideia que nos vai fazer ficar na história"

Ora bem, na pequena “cabacinha” do Santos, isto soava a promoção, gabinetes remodelados, ar condicionado, secretárias giraças e boas.

"Conta. Tenta ser rápido poruque tenho de ir almoçar com o Peres"
Abel, cheio de si, põe em cima da mesa uma morcela e começa a encher o insuflável com a imagem da Terra.

"Aqui esta a ideia!"
A expressão na cara do chefe, era como o interior dum pneu de tractor vazio.

"Olha lá, Abel,...a morcela compreendo, porque estamos na hora do almoço, uma garrafa de tinto, fazia sentido, mas...um balão? Os Santos populares ainda estão longe, pá!"
Dos Santos populares, era coisa de que o chefe não fazia parte.... Confiante, Abel continuou.

"Tente ver isto..." disse ele fazendo mistério da ideia que ia apresentar.
"Há uma coisa comum entre estes dois…coisos"
"DIZ, PORRA! Não tenho o dia todo, e estou com fome!"
Abel tremeu como um actor que tem uma “branca” em palco e apenas bolsou:
"Um MERIDIANO!"

Silêncio total...

Episódio II - Santos e Morcelas




O silêncio durou o tempo duma jogada de snooker entre os poucos neurónios de ambos....
Um, porque não percebeu nada, o outro porque perdeu a hipótese de brilhar.

"O quê?" rosnou o Santos.
"Sim, um meridiano..." ganiu o Abel

O silêncio manteve-se durante outra tacada nos ditos neurónios....

"Abel, o que é isso? Alguma forma de eu te mandar para casa com baixa psiquiátrica? Olha que não te safas...." Disse-lhe, apontando para a porta.
“Oh, Santos, por amor de Deus....não esta a perceb...ainda não viu o potencial da ideia"

O Chefe, estalando os dedos e com um olhar de quem tem uma agenda muito ocupada apenas disse: “ou explicas em 2 minutos, ou ficas a falar sózinho..."

Abel, agora mais abalado, pegou no insuflável.

“Está a ver este balão? Imagine que é a Terra...”
"sim...é a Terra" confirmou o Santos com ar apático.
"A Terra tem meridianos, que são linhas imaginárias que separam as horas umas das outras" Explicou Abel pouco convicto no que acabara de dizer.
"Explica-te"
"As horas são, separadas umas das outras por linhas, como estas que aqui estão desenhadas.” Apontava trémulo para a bola de praia. “Linhas convencionadas internacionalmente"

"Separadas como? Politícamente? Ó Abel, tu não me arranjes problemas, pá"
"Não, Sr. Santos, são separadas por uma hora"
Abel, que não sabia muito de Geografia, fusos horários, meridianos e paralelos, ao pé do Chefe, era uma espécie de Semi Deus, com garantia.
"Uma hora? Isso é imenso tempo. Não vais falar das linhas todas, ou vais?"
"Vou tentar explicar isto..." Abel sentia uma náusea interior que significava sem dúvida medo, porque a fome já a tinha perdido.

Abel explicou, com desenhos e tudo… Que a Terra era dividida em 24 horas, por meridianos de uma hora e que cada meridiano passava pelo polo e dividia sempre a Terra em duas partes iguais. Se ele tivesse dito hemisférios o Santos iria espumar e tinha de começar tudo de novo....

45 minutos depois, o santos, já tinha uma idéia que as horas eram divididas por coisos, que eram 24, que eram iguais para todos, o que era democrático, que davam a volta à terra e à cabeça dele.

"Está a ver esta morcela?" Disse Abel, empunhando o enchido.

O Santos, nem acreditava no que via...transido de fome, uma hora atrasado para o almoço, olhava para uma morcela...só pensava nela dividida em 24 partes, como tinha aprendido hoje. Só faltava pão.

"Sim estou a ver" disse.
"Esta morcela, também tem meridianos. Estes pequenos cordéis que a mantêm toda junta. Imagine este conceito a uma escala Terrestre". Pelo olhar ausente do Chefe, a explicação não tinha sido muito eficaz...
Santos era incapaz de imaginar algo que superasse o tamanho de uma meloa. Já salivava.
Aproveitando a pausa mental do animal, Abel avança com a explicação final.
"A nossa ideia, Nacional, baseia-se numa morcela, também ela Nacional, ou seja...fazer no planeta, o que se faz na morcela...Passar 1 fio, Um CABO.
UM MERIDIANO REAL! O NOSSO MERIDIANO!"
Concluiu Abel, em jeito de apoteóse.

Silêncio total....

Episódio III - Arame e Cervejas



Santos dividia-se entre a fome, a morcela, o meridiano, o ministro e dar uma tareia ao Abel...
"Ou explicas, ou vais fazer ofícios de castigo, Abel..."
"Sr. Santos, resumindo… Vamos propor, ao Sr. Ministro, que Portugal estique um cabo desde o Pólo Norte ao Pólo Sul, representando um meridiano. Um meridiano real"
"Esticar um cabo?"
"Sim, um cabo. Um meridiano, como eu lhe expliquei, que vai passar pelo Seixal. A que daremos o nome original de, 'O Meridiano do Seixal' "

Santos, era básico, mas sabia que tudo o que faz sombra, sai nas fotografias. Imaginava-se a sair nas revistas ao lado do Sr. Ministro, a ser promovido, a ter outro gabinete remodelado, outro ar condicionado e secretárias ainda mais giras. Num só dia já se sentia promovido duas vezes. Nada o parava.

"Abel, faz um projecto no computador e põe, até amanhã de manhã, na minha secretária. Agora tenho de ir comer uma morcela, para absorver a ideia."

Nestas vidas políticas, as ideias são como as pipocas na sala de cinema, ou fazem barulho e mexem com o povo, ou nem se dá por elas. O Santos não ia perder esta hipótese de brilhar. O Abel seria um mero peão. Assim que tivesse o projecto, recambiava o funcionário para o arquivo morto. Ele nada podia fazer….O Chefe já se imaginava a tratar o Ministro por "tu".


Santos, era um habitué de cervejarias, e como tal, tanto molhava a goela, como a secava a dizer baboseiras. Nessa tarde, secou a goela contando a ideia do Abel. Com ele a esvaziar copos, estava o Inácio, um velho amigo de longa data, com o qual Santos tinha apanhado grandes bezanas.
Diz-se que o Inácio, quando estava sóbrio não sabia o caminho para casa. Era um desempregado profissional com uma brilhante carreira na àrea da indrominação. Por nunca ter percebido a palavra, dizia sempre que trabalhava em minas, que sacava as coisas do fundo... Estava sempre à espera de um bom negócio, que pelo menos o hidratasse.

“Ó Santos, isso é fixe. Já tens orçamento para isso?" balbuciou o Inácio depois de ouvir a confidência do amigo.
"Que orçamento, pá?!...Isto é uma coisa em grande. É uma coisa de Estado" respondeu o Santos com ar de ser íntimo dos ministros.

"É de estado e de estalo, para se sacar umas massas...tázaver"

Santos era um rasteiro com ambições. Dinheiro, era como o gongo num round de boxe...era sempre bem vindo.

"Ó pá, tens que te orientar, e se puderes orientar os bacanos dos amigos, ainda melhor..." aliciou o Inácio.
"Tásmadizer que podemos sacar dinheiro com ideia do Abel?" sussurrou o Santos, olhando em redor como se estivesse a ser observado.

"Tás lerdo, pá! Achas que tava a secar a goela sem proveito?" disse o amigo fazendo sinal para soltarem mais uma bejecas. “Primeiro, a ideia não é do Abel. É do Ministério, por sinal do teu departamento. Em Segundo, quem quer saber do Abel? Achas que o Ministro vai ficar triste, por o Abel não ir lá jantar a casa?”

Santos sentia-se encorajado….O Inácio tinha razão.

"Provávelmente, fornecer cordel para as morcelas deve ser bom negócio, mas fornecer o arame para esse estendal “maravilha”, é bem mais fixe".
A imperial humedeceu aquela garganta mágica, de onde tinham acabado de saír verdades puras.

Santos absorveu o conceito do negócio...

"Mas como podemos nós sacar as massas? Isto vai ao Sr. Ministro. Ele vai mandar fazer estudos"
"Não sejas otário, Santos. Achas que o Ministro e o resto do pessoal não se vai orientar?"

Evidente que sim, pensou ele.

“Epá, tu pensa-me só, que nesse estendal Europeu devem estar mais metros de arame do que em todos os varais de Portugal. Se pudermos ganhar algum, sem esforço, era bem bom. Ou achas que estou a inventar?"
"E como? Vendes arame?"

Inácio já estava a ficar incomodado com a falta de talento para o negócio do Santos.
"Não, pá…...Mas o meu cunhado trabalha numa empresa de metalomecânica e safava o material. Ele anda enrolado com a filha do dono. Se ela quiser pergunta ao pai onde se vende arame por grosso, quando chegar a altura do orçamento, vais ver que tudo se compõe"

Já se sentia a stressar….
"Olha lá, inácio, e se o Ministro decidir comprar aos Espanhóis?"
"Não pode! Vais ter que dizer que a ideia é Nacional e por isso o material também tem de ser Tuga." Respondeu com uma convicção tão patriótica que não deixou margens para dúvidas.
“Descansa, pá. Enquanto houver cervejarias, há sempre hipótese do povo fazer reuniões de trabalho. Vai por mim…sócio”

Santos, sentiu-se na obrigação de pagar as despesas da tarde.
Afinal de contas...foi uma reunião de negócios.....

Episódio IV - A preparação



A cabeça do Santos não parava. Estava em stress....Seria possível ganhar dinheiro com o projecto? Na venda do arame? Ele sabia que eram muitos quilómetros…Mas quantos? Não podia começar a sonhar…Nem sabia se o ministério ia aprovar a ideia.

Tinha a marmita a ferver. Em muito pouco tempo, muita coisa tinha acontecido. Tinha que relaxar.
Sentou-se na sala, para descansar, mas a preocupação era bem maior.

"Ó Idália”, gritou ele para a mulher, “sabes quantos quilómetros são do Pólo Norte ao Pólo Sul?"
"Já está a dar o concurso da Tv?" gritou ela da cozinha.
"Não, mulher… por acaso sabes?"
"Não sei, mas deve ser mais do daqui a Badajoz e voltar. Vai ver ao mapa da minha agenda. Daqui a Paris são 4 cm, por isso deve ser mais”.

Santos calou-se e pela primeira vez na vida ficou a pensar.

Abel, passara a noite, a estruturar a ideia.
Esticar um arame pela Europa, não era coisa fácil. Não podia ir por baixo do chão, senão não se via e não tinha dignidade nenhuma. Tinha de ir a uma altura considerável, para evitar que batessesm nele. Além disso, evitava que estendessem roupa, o que era pouco dignificante para aquela obra. Também pensava na quantidade de pombos pousados no meridiano. Não era agradável confundir o “monumento” com um fio telefónico. Muitos problemas iriam aparecer. Nesta fase, o que interessava era aprovar o conceito. Não tinha dúvidas que tal obra, quer pela sua envergadura, quer pela sua importância, iria ser alvo de estudos. O Governo iria criar uma comissão para a execução da obra. No fim de tudo, era o nome da Nação que se espalhava...pela Europa e pelo Mundo.
Ele acreditava que o Meridiano era viável, só não sabia como conseguir ficar com os louros. Afinal, era uma ideia sua. Desde o Santos, até ao Ministro, um grande grupo de pessoas iria querer brilhar com o projecto. Disso, não tinha a minima dúvida.
A única hipótese era não apresentar os elementos todos. Assim,quando houvesse confusão, ele tinha as soluções. E seria ele a brilhar. Quem sabe uma promoção, um gabinete novo, ar condicionado…..
Seria mesmo capaz? A única vez que tinha conseguido por uma ideia em prática, foi colocar uma tomada na casa de banho...e a coisa não funcionou. Tinha de acreditar que conseguia. Sorriu e pensou em voz alta: O Meridiano de Abel, também conhecido pelo Meridiano do Seixal. Era sem dúvida um bom nome…

O Chefe entrou no departamento 15 minutos mais cedo. Isso significava procupação.

"Abel”, gritou ele,...”como está o nosso projecto?"
Nosso projecto, era ruído para os ouvidos de Abel. Era dele e não "nosso".
"Está a andar, Sr Santos" respondeu.
"A andar?...era para estar pronto hoje. A andar estás tu, não tarda nada"
"Ó, chefe, isto não é tão fácil como pensa..."
"Abel, se não é fácil, a culpa é tua. Eu quero apresentar o projecto amanhã no ministério, e vais comigo...desenrrasca-te"

Abel não acreditava no que ouvia. Ia à reunião! A coisa tinha hipóteses de não lhe fugir das mãos.....


A reunião foi marcada, para o dia seguinte com o Secretário de Estado…


Episódio V - Drs. e Balões



Eram 11:56, quando santos e Abel sairam do Táxi.
Entraram no edíficío do Ministério com o mesmo respeito com que se entra num santuário. Era um velho prédio, restaurado, que tinha custado 6 vezes o previsto. Quiseram pôr uma placa dourada frisando: “que era o edificío mais caro do País”, mas uma mente iluminada aconselhou a não o fazerem.


Depois das formalidades de identificação, apanharam o elevador para o 10º piso. “O piso dos Deuses”, pensava o Santos. Abel levava com ele a velha pastinha de cabedal do tempo de escola. Nessa pastinha tinha levado imensos trabalhos que lhe deram a magnífica media de 10. Já era um fetiche. Só lhe podia trazer sorte. No seu interior, iam uns papéis, o insuflável e a morcela. Era tudo o que precisava para apresentar uma ideia genial.

Sorria mentalmente, porque só ele sabia fazer o truque. O Chefe nem tinha ideia como se manipulava um Secretário de Estado a morcela e o balão.

Chegados ao 10º piso, uma secretária (giraça) vei receber os dois visitantes. Caminharam por um corredor enorme. Santos pensou, por momentos que não chegaria ao fim antes da hora de almoço.
A jovem secretária, com um sorriso, abriu a porta da sala de reuniões e fez sinal para entrarem.

A sala, era maior qua a casa do Santos e do Abel juntas. Pensaram ambos: “Isto é que é um País!”. Para eles, a qualidade do País, media-se na dimensão do espaço gasto pelos políticos.
Ensaiaram uns lugares para se sentarem. Como não sabiam onde o Dr. se ia sentar ficaram espectantes…
Santos nunca podia ficar depois do Abel. Abel pensava: “tenho de entalar o chefe.”

A espera foi longa.

Uma hora depois, Secretário de Estado entrou.
“Desculpem-me. Para vos receber hoje tive que fazer um esforço enorme. Sentem-se” disse ele com um sorriso de cartaz político, antes de ser vandalizado.


O Eng Tomaz, com Z, era uma pessoa que gostava de brilhar. Era amigo próximo do Ministro, e como tal da maior confiança. Vestia impecávelmente, falava línguas, entrava perto da hora do almoço e raramente ficava depois das 15:30 no gabinete. Só podia significar organização.

"Então são vocês a “task force” deste Ministério?"perguntou...

Com esta frase, o Santos caiu de 4 e o Abel piscou os olhos repetidamente com medo que o chefe se referisse às forças da "tasca".

“Caro Santos...temos ideias giras?" perguntou o Dr.
“Ó, Sr Dr. temos uma ideia espectacular.."
“Desculpem interromper…não querem café, pois não? Dª Odette, traga-me um café, com adoçante” e continuou "..."ora bem, não era de esperar outra coisa..Conte-me tudo. Estou com um pouco de pressa"

Santos soltou o Abel.

"Aqui o Sr. Abel, o meu funcionário, vai explicar a história dos Marcianos"
"Marcianos?" espantou-se o Secretário.
Abel até sentiu o estômago enrolar-se...
"Sr. Dr., dos Meridianos..."ganiu ele...e passou a explicar.

Abel, num acto confiante, tirou a morcela e disse: ”Isto é Portugal. Daqui partimos para algo muito mais inovador. Algo mais grandioso…mais além. Chega de sermos pequenos”….e assim continuou a apresentação durante uns minutos...
Fora brilhante, na manipulação do balão, da morcela e de todo o conceito geral.

"Hmmmm”...disse o Secretário de Estado,...”Uma ideia inovadora. Bem pensada. A apresentação foi quase performática. Os meus parabéns.” disse ele com um sorriso.
“Mas isto requer valores exorbitantes decerto….Já temos noção de custos?"
"Já temos um organismo a trarar disso", respondeu Santos. Não era mentira...o Inácio era um organismo vivo..aliás vivaço, quando se aguentava nas pernas.

"Um organismo de Estado?"
"De Estado"...ébrio, claro, pensou o Santos.
"Preciso de saber valores, para avaliar a possibilidade deste projecto...Parece-me um projecto arrojado. Vêm ao encontro deste novo Governo. Mostrar que somos capazes de fazer o impossível. Digam-me coisas no dia....” consultou a agenda e verificou que tinha todos os almoços marcados até quase ao final do mandato, mas as tardes estavam todas livres, até às 15:30, uma vez que as manhãs, não eram para usar...."Digam-me algo até Sexta-Feira". Disse, com um ar empreendedor. "Mandem-me por e-mail".

O secretário de Estado levantou-se com uma pose de filme publicitário a roupa masculina, apertou a mão ao Santos e ao Abel disse: "Não lhe aperto a mão porque o médico mandou-me cortar nas gorduras". Com um sorriso afastou-se de cena como o fantasma da Ópera.

Para o Santos e Abel, tinha sido uma hora em cheio. Tinham tocado o céu...

"Abel, quem é o Emílio?"
"Qual Emílio, chefe?"
"O que vem cá trazer o trabalho na sexta."

...


Episódio VI - A Guerra do Golf



Ao chegar à repartição, Santos, sentiu-se na obrigação, de dizer ao Abel, que já tinha uma ideia para fazer o orçamento. Não podia abrir o jogo, ou tinha de deixar o Abel comer do mesmo tacho. Por isso não ia abrir o jogo.

"Abel, descreve-me todos os pontos para que eu ponha uma equipa a trabalhar no assunto. Olha que só temos dois dias." disse-lhe ele ao fim da tarde.
Abel, nem abriu a boca.

..............

Tomaz, com Z, no caminho para o golfe, foi a matutar na ideia...
"Um Meridiano....belo conceito...um cabo de aço que atravessa a Terra de Norte a Sul...bem visto" pensou ele. ”Uma obra grandiosa. Um meridiano Português....um conceito que já Tordesilhas fora no seu tempo...Lançar esse cabo é uma Epopeia.....Os países por certo ficariam orgulhosos de ver passar o Meridiano do Seixal, pelo seu território. Um símbolo físico da união” pensou….
"Sim, faz sentido...e com alguma ajuda dos media, será uma boa promoção para a minha carreira"

Imaginou-se logo a negar, à partida, o cargo de Presidente da República...e a recusar uma condecoração...dizendo "Não por mim, mas pelo mundo". Claro que não dispensaria o cargo de Presidente do Partido.
Soava-lhe bem...Tinha que falar com o Ministro.

Nessa manhã, no green, dois terços do Governo encontrava-se lá a atirar bolas aos buracos. Por sinal, buracos pequenos e não tão fáceis de acertar como os feitos por eles. Os restantes, estavam ausentes do País.

"Victor”disse o Tomaz ao amigo, que era o Ministro...”Tive uma ideia brilhante..."

E lá contou ao Ministro a necessidade de promoção de Portugal...uma nova Epopeia...O levantar, não de padrões, mas torres de metal, por onde passaria o Meridiano. "O" Meridiano.....

Claro que não iria ser obra fácil, mas seria grandiosa e todo o mundo estaria com os olhos postos nela... quem sabe, se não se tornaria na Oitava Maravilha do Mundo?

Victor, o Ministro, pousou o copo de refresco, olhou Tomaz e disse: "Diz-me uma coisa, temos valores?"
"Ainda não vitor, só na sexta-feira"
O Ministro, com ar pensativo pergunta: "Achas que se consegue fazer com a verba do Ministério?"
"Deixa ver os valores, Victor...pode ser que tenhamos de cortar em algo"
"Corta-se!" disse ele com decisão..."Tamanha obra merece".
Uma auto estrada era vulgar em qualquer país, uma linha de comboio, um hospital, uma escola...mas um Meridiano? Nunca se tinha visto tal colosso!

"Tomaz, temos de ter patrocínios. O Seixal é o principal interessado. Tem de financiar. Uma empresa de Telecomunicações pode usar o cabo para transporte de ‘info’. Vendemos cada metro de cabo uma empresa diferente, como fazem na TV. Temos de cativar o mercado Empresarial e temos de encontrar uma equipa coesa e brilhante, que reacenda a chama dos nossos heróis dos Descobrimentos”.

Tomaz, sentiu orgulho. Uma vontade enorme de fazer parte do projecto.
"Mas...” disse o Ministro....”isto tem de ter o factor surpresa! Nao podemos começar já a divulgar. Estamos a fazer história!"
"Mas precisamos de promoção" disse Tomaz.
"Sim, mas na altura certa. Por enquanto, isto tem de ficar secreto. Tens uma equipa?" perguntou.
"Sim, temos um organismo a tratar disso."
"É de confiança?"
"Garantiram-me que sim"
"E são do partido?"
"Não sei..."
"É bom que não sejam. Se por qualquer motivo isto der para o torto, precisamos de ‘outsiders’ para imolar, percebes?"
Tomaz, saiu motivado do green....

Victor, foi fazer o 18º buraco, entre muitos outros que já tinha feito no País….


Episódio VII - Ameijôas e Orçamentos




Santos estava muito atrapalhado.

Tinha de ter um orçamento até Sexta-Feira. Orçamento de uma coisa que nem ele próprio entendera. Pedir ajuda ao Abel estava fora de questão. Não podia mostrar fraqueza. Só tinha uma hipótese: recorrer ao Inácio.
Ele era o tal "organismo" que o podia “desenrrascar”. Sem ele, a coisa podia ficar feia.
................

Inácio, sorvia uma ameijôa, enquanto Santos falava.

"Inácio, preciso do teu apoio. Lembras-te da conversa que tivemos no outro dia...sobre o estendal?…Ou lá como isso se chama...Epá, tens de me safar um orçamento. Urgente"
"Conta comigo" Respondeu prontamente o oleoso Inácio.
"Mas como vais tu fazer isso? Sabes quantos kms são ao todo? Quantas pessoas são precisas? Olha que isto não é nenhuma graça. Envolve o Governo" miou o Santos com a mesma preocupação de um gato, num canil.
"Não é preciso saberes como vou tartar disto...Quanto mais souberes, mais te preocupas. Isto é sempre a desenrolar" disse o Inácio com a calma habitual.
"Acredito…. mas preciso de ter papéis para apresentar"
"Se tens “papel”, eu troco por outros" gracejou…

Inácio limpou a boca com a casca da última ameijôa, empurrou a travessa com um gesto largo, recostou-se na cadeira e com o sol a bater-lhe na face, parecia um cavaleiro de armadura reluzente, pronto a salvar a sua donzela. Todo ele brilhava.

"Vou explicar-te o que precisas para dares aos teus chefes, ok?"

Os olhos de Santos iluminavam-se como a barra de luzes dum carro-patrulha da BT.
Rasgando, metade da toalha de papel, com a caneta do empregado, Inácio passou a explicar.....

"É assim...
Tu precisas de “massa”. Mas não tens…por isso tens de fazer um financiamento público. Ou seja tens de arranjar uns otários que engulam isto. Vais ter com os financiadores e dizes que tens um projecto governamental e etecetera. Tentas que eles colaborem. Percebeste?

Santos estava com uma concentração tal nas palavras do amigo, que nem fome sentia....

“Leva-se uma folhita do Ministério, com um paleio de entorpecer, o que dá logo outro aspecto. Diz-se o que se pretende de cada um. Tudo financiadores separados para não começarem a falar entre eles. Para começar, não vai haver problemas..... Mas não sabemos se isto vai acabar bem... Logo se vê…..Se der para o torto, eles que se agarrem ao pau...se a coisa continuar..fixe! Temos negócio. O “papel” vai aparecer."

Santos estava maravilhado com a facilidade com que o Inácio falava do projecto. Ele que era desempregado profissional...onde poderia ter chegado, se tivesse tido um emprego...

"Ora vamos lá fazer uma estimativa. Primeiro vamos escrever o que vai ser preciso. Como na lista das compras, percebes, Santos?
Tu vais precisar de: Muito arame, postes de metal, para esticares o fio, porque senão os putos rebentam-te com aquilo tudo. E se não forem os putos são as “gajas” a esticar a roupa. Em toda a Europa as "gajas" são iguais. Estendem roupa para a secar. Aquilo tem que ficar alto…
Precisas de uma viatura. Uma coisa que tenha uma bobina grande para desenrolar o arame. Tem que ser uma coisa sólida.
Precisas também de pessoal….. e parece-me que chega" Concluiu Inácio.

"Só?"...perguntou o Santos
"E achas pouco?"
"Continua..." pediu o santos

"Ok. Vamos ver o pessoal....de quem precisas tu?....
  • Um motorista com carta de pesados, certo?...
  • Um bacano que saiba esticar e soldar arame e saiba enterrar postes...
  • Um chefe de viatura, que saiba mandar na equipa.
  • Um cozinheiro, para lhes fazer as marmitas, para que eles não tenham que ir ao snack bar e…
  • Um desempregado." Finalizou Inácio.

"Um desempregado?" Espantou-se o Santos."Tu?"
"Man, eu?! Tastapassar? Se eu entrar no projecto, ele perde um líder. Um operacional....Um desempregado, é políticamente fixe. Crias mais um posto de trabalho e além disso são os olhos do público no projecto. Ninguém desconfia de um desempregado"

"Ó Inácio....mas onde vais buscar esse pessoal todo? O orçamente é para sexta-feira..." Santos já estava outra vez desesperado.

"Tu achas que cá no bairro não te safas? Moras aqui há 20 anos e não conheces o potencial da vizinhança? Até fico desgostoso"...e faz sinal ao empregado, para soltar mais uma bejeca, bem tirada em copo gelado...

"Só por ser teu amigo, até te vou dizer mais...Não me vais pagar nada. Se sobrar "algum" falamos depois..." disse Inácio.
"E o pessoal?" perguntou Santos.....
"Também não penses que é tudo à borla, man. Nem todos são como eu….Quanto achas tu que o teu patrão tem para gastar?"
"Não faço ideia..."
"Vais ter de saber....Temos andar nas verbas. Para começar, até sai barato...depois do sucesso Mundial, todos vão querer entrar com a “massa”. Aí, o mais difícil, é haver postes para todos. Estás recordado da Expo? Eram só 5 postezitos e cada um tinha uma marca diferente. E nem tinham função. Já viste as marcas todas a irem pelo estendal abaixo? Imaginas o que uma marca de gelados não paga pelos postes nas zonas quentes? Man...."

Santos começava a achar que Inácio tinha razão.

"Eu faço-te uma folhinha com os preços e tu vais saber das massas lá com o Sr. Engenheiro. Ok?"
"Ok!"... Disse o Santos preparando-se para pagar a despesa.

Saiu mais animado.
Aquilo parecia ter pernas para andar e começava a fazer sentido…
Estava mais aliviado.


Episódio VIII- Gambas e Camiões

Tomaz, preparava um documento para enviar aos diversos Governos dos respectivos países bafejados pela sorte de estarem sobre o mesmo meridiano. O Meridiano do Seixal.
Tinha de ter uma campanha de publicidade bem estruturada e enaltecedora. Quem melhor para isso que a Agência de Publicidade com quem trabalhava habitualmente? Era uma equipa criativa que sempre consegui o que se pretendia. A eleição do Partido.
Ideias para estruturar uma campanha, para surgir na altura certa.Tinha de marcar uma reunião com eles.
Tomaz, só precisava da lista dos países que iriam ficar sob o Meridiano.


Santos estava às voltas, para ver se sabia os valores do ministério, quando toca o telefone.
"Santos? É o Sr. Eng. Tomaz"
"Boa tarde Sr. Eng. Em que posso ser útil", respondeu Santos, fazendo uma vénia em seco.
"Ó Santos, por acaso sabe quais os Países por onde passa o Meridiano?"
"De momento não tenho aqui a lista, Sr Eng."…Torcendo-se todo por nem fazer ideia de quantos países cabiam na morcela...não no arame...não no balão
"Posso ligar ao Sr. Eng. daqui pouco?"

"Pode sim, Santos. E não diga isto a ninguém...tem de ser segredo. Até já"

Santos estava num misto de euforia e desespero...Se por um Lado, o Sec. de Estado, confiava nele por outro tinha de encontrar o Abel imediatamente.

Abel, estava prestes a acabar mais uma partida de solitaire, quando o Santos entra afogueado e a gritar : "Os países, os países?"
"Que países, Sr. Santos?"
"Os que ficam debaixo do arame!"
"Que arame?"
"Abel, porra, do Mercenário...Marciano...dessa coisa que tu inventaste!"
"Do Meridiano?"
"Sim!"
Abel arrepiou-se….Ia perder o seu trunfo. Se lhe dissesse isso, ia perder a liderança....Apartir deste momento, seria perfeitamente desnecessário ao projecto...
"Dê-me 30 minutos"
"Tens 3!" Gritou o Santos

Abel escreveu uma lista de Países, alterando 3. Talvez a Polónia estivesse no mesmo meridiano do Seixal, na Pangeia, a Holanda e Paris iriam ficar bem...mas isso fora de certeza há muitos milhões de anos.

Santos correu para o escritório com o documento na mão e ainda ofegante conseguiu dar ao Sec. de Estado a lista dos países a contactar.
Nada de estranho soou ao Secretário de Estado, uma vez que estava mais preocupado com a imagem do que com a geografia....

Abel, sentia-se vingado. Pusera a geografia num novo conceito. E o Santos estaria entalado no dia em que o Ministro pedisse autorização à Polónia para passar o Meridiano do Seixal. Seria de rir à gargalhada!

Tomaz, perguntou a Vitor...
"Olha lá, não seria melhor falar com os Negócios Estrangeiros?"
"Para quê? Para ficarem eles com os louros? Quando chegar a altura, diremos..."
"Olha que não sei....eles vão ficar danados"
"Tomaz, depois de termos o acordo para a colocação do primeiro poste, ok, podemos comunicar...mas nessa altura já não nos podem pôr fora. Percebe?"
"Acho que ten razão, amigo."
"A Agência de Publicidade já marcou a reunião para a promoçãoo do evento?"
"Vou marcar, assim que tivermos valores para definirmos budgets…”


Santos estava em pânico. Precisava de recorrer a especialistas para safar algo. Tinha mesmo que encontrar o Inácio. Ainda bem que tinham inventado os telemóveis.
"Inácio? É o Santos...Epá, logo vai à cervejaria, para saber como estamos de orçamentos...Vai depois do jantar, ok?"

O Santos ja estava um bocado farto de pagar os vícios do Inácio...Ok, que ele estava a ser amigo, mas não exageremos...


Estava a Lua a levantar-se quando os dois se encontraram na marisqueira, ao anoitecer.
"Então? Valores? Já tens.." Perguntou o Santos ansioso.
"Este teu amigo, preocupa-se contigo...Bem merecia umas gambas. Olha que te consegui tudo.."
Santos faz sinal ao empregado para trouxesse umas vírgulas, das grandes.
"Conta lá, pá...Estou a ficar preocupado".
"Santos, acalma-te, man, tudo orientado. Tu conheces o meu cunhado?"
"Não"
"Ok, melhor ainda...Estivemos a trabalhar no projecto e conseguimos tudo num raio de 2 km. Parece incrível como este bairro tem tudo."
"Aqui?... Tu vais tramar-me, pá"
"Queres ouvir, ou vais sair antes de veres o marisco ser devorado?"

O empregado aproxima-se com uma travessa de gambas arrumadas como povo num transporte público.
Com uma expressão de suspense, Inácio faz esperar o Santos, descascando a gamba como um neurocirurgião.

"Já resolvi o problema da viatura"
Santos empalidece...
"Mas ainda não temos valores, pá...Isto ainda não está aprovado" diz o santos.
"Calma,...por enquanto, é tudo fiado.
Na volta 10 metros depois de começar a viagem... o Governo cai! Tázaver? A gente vai dar preços por km, para não haver treta"

"Mas isto não é um táxi"
"Mas o condutor, é o Helder, o motorista do 39 F, percebes? Ele trabalha ao kilómetro."
Santos estava a ficar preocupado com as noções de economia do Inácio.
"Conseguimos comprar o camião de mudanças daquele gaijo do fundo da rua. O Tony. O gajo faliu. Mas topou que queríamos o camião e carregou no preço"
"Quanto?"... Perguntou o Santos

Com a gamba entalada nos beiços, Inácio escreveu o valor na toalha de mesa
"Inácio! Por esse preço comprava um camião novo de certeza"
"Mas tu queres o camião para te mostrares nas redondezas, ou para apresentar serviço? Já pareces os ministros….Esses camiões novos dos chinocas são giros mas não prestaram as provas que este já prestou..."
Santos, já sentia o intestino a fraquejar...Maldita a hora em que se meteu nisto.
"Ouve e depois falas. Sei que me vais agradecer."
Afastando a travessa vazia para o lado, e recostando-se cria um espaço na toalha para explicar a logística do evento.
"Agora ouve....A viatura já tem uns kms mas já provou que aguenta tudo. O meu cunhado vai reforçar tudo, colocar uma bobina de cabo de aço, que encontrou a um preço único e pinta a viatura. Ela vai ter espaço para 6 pessoas, como vai fazer serviço de Estado, não vai ser preciso homologar. Tázaver?…Continuando...Descobri as pessoas necessárias, e que te vão custar tremoços. Mas atenção!...Não é à borla!...Elas querem ganhar algum. Não se sabe no bairro, quanto é que é, lá do polo Norte até lá abaixo ao fundo, mas isso também não interessa muito. Apenas se discutiu que vão apanhar calor e frio, e que vai ser uma viagem longa. Muitos vão meter baixa para poder ir nesta maravilhosa e dignificante manobra do nosso País. Santos, estamos a fazer história. Pensa nisso! Não é todos os dias que se apresentam soluções destas por uma travessa de gambas. Percebes?"
"Percebo" disse Santos….
"Não, pá, pede uma travessa de Percebes, enquanto escrevo tudo, aqui na toalha, antes do empregado trazer outra."
...

Episodio IX - Santos & Promessas



Já a Lua se atirava para o chão, quando o Santos saiu da marisqueira. Estava meio zonzo…Por um lado o que o Inácio dissera fazia sentido, mas por outro, o Secretário de Estado tinha estudos e ia perceber tudo. Se ele percebesse que tudo isto tinha sido cozinhado pelo Inácio, num raio de 2 km do bairro, podia ser o descalabro. Uma coisa também era certa o Inácio nunca saira da zona, mas conhecia-o como ninguém e safou-se sempre. Só tinha que apresentar os 3 bocados de toalha rasgados sob a forma de um projecto internacional...e para isso tinha de meter o Abel ao barulho...Bolas que iria ter de dividir a fama com ele. Isso não era bom.

................

"Fique mais um pouco" pediu a Duquesa de Halts e Baichs, ao Secretário de Estado, na sua recepcção monumental de Verão.
"Ó, minha cara amiga, adorava ficar, mas tenho de estar cedo no escritório para analisar uns dados relativos a um projecto colossal"
"Ai sim? Conte-me!" disse a Marquesa com os olhinhos a brilhar.
"Ainda está numa fase embrionária, mas promete vir a ser uma nova Epopeia, mas vai manter-se secreto."
"Tem medo dos Espanhóis, não é?"
"Nem por isso. Só teria se o Seixal fosse espanhol"
"O Seixal? É nosso?"
"Sim, por acaso é, e quem sabe não virá a ser a futura Capital"
"Ai, Tomaz, conte-me. Conte-me tudo!"
"Sinceramente não posso. Acredite que adorava poder falar-lhe do Meridiano, do cabo esticado pelo mundo e de todo este projecto fabuloso, que irá por certo criar um suspense incrivel. Sinto-me pequeno perante tanta responsabilidade. Esta minha ideia, serve os propósitos do meu altruísmo. Que a obra surja no nosso País mas seja algo que represente o mundo. Algo universal..."
Após um breve silêncio, os presentes tinham os olhos brilhantes de emoção, de curiosidade e de uma enorme quantidade de alcóol. Tomaz mergulhou na noite escura deixando para trás uma elite curiosa. Seria, de certo um futuro líder de opinião. Afastou do seu pensamento o discurso possível da tomada de posse como Presidente da República.

..............

Eram nove horas, quando o Santos entrou no departamento. Decididamente algo de estranho se passava...Nunca o Sol o tinha visto antes de passar a barreira do meio dia….
"Abel, meu caro,...então isso vai?"
Mais estrannho ainda…Estava a tratá-lo como gente. Pela primeira vez na vida Abel sentiu que de certeza se reflectia no espelho.
"Diga Sr. Santos" disse Abel esboçando um ar levemente superior.
"Caro amigo...temos aqui um trabalhinho...."
"Temos? De que género?"
"Algo em que você tem a mestria de um puro sangue" Santos ouvira isto na Tv, por alturas de uma festa tauromática e achou que vinha a propósito. Era uma forma de elogiar a besta do Abel, do qual se sentia dependente.
"Diga Sr. Santos" disse Abel, num tom que quanto mais subia em superioridade, descia em temperatura.
"É aqui sobre o nosso projecto.."
"Nosso?" Atalhou abel...
"Sim esta coisa do Seixal. Dos Merdianos" disse Santos tentando recordar-se da palavra...
"É que já tenho aqui uns valores e era importante, dar um aspecto profissional a isto"
Abel, sem se levantar, estica a mão, obrigando o Santos a dar um passo em frente para lhe entregar os papéis. Olhando para os retalhos de papel, antes de abrir os olhos de espanto, abriu as narinas..."Cheira-me a Gambas...e ameijoas. Percebes?"
"sim" diz santos…"Temos caldeirada..."
Abel ao ler os básicos cálculos, ficou com a noção concreta que isto ia dar cadeia para um grupo qualquer.
"Ora então, diga-me, caro amigo..."' dirigindo-se ao Santos..."Que pretende deste pobre número de Segurança Social"
"Ó, caro Abel, o Secº de Estado, quer ver valores amanhã para conversar com o Ministro, e a comissão de orçamento não teve tempo de passar as folhas a limpo"
Comissão, ou comedores. Abel estava a topar que isto ia acabar com um Ministério qualquer….
"Quer que eu faça uma pastinha, daquelas pastinhas que os Ministros gostam tanto?"
"Sim, dessas feitas nos computadores...Com cores, que até parecem americanas"
"Ok...Eu faço, mas"...este "mas", era já um sintoma de posse....era agora o puro sangue que toureava a besta do boi do Santos.
"Mas depois quero uma semana em casa, com uma desculpa inventada pelo chefe"

Santos sentiu que o sangue todo lhe subiu à cabeça e essa foi a única razão porque os braços não se mexeram para partir o focinho ao Abel.
"Claro”, já tinha pensado nisso"
"Ainda bem que o seu projecto é realmente importante..."
"Nosso" retorquiu Santos
"Seu!" atalhou Abel.
Santos por momentos sentiu que o roedor se apercebera de um desastre. Ele sabia que os animais sentiam os desastres eminentes. Os ratos abandonavam os barcos quando eles estavam em risco de afundar.
"Amanhã terá a sua pasta maravilha"

A noite caiu como uma bigorna em mosaico...




Episodio X - Meeting point



Tomaz falava com Victor, na inauguração de uma exposição de um artista perfomático, que consistia em manter a sala vazia e não aparecer durante todo o tempo em que os convidados abafavam croquetes, quase às escuras.
“Victor, espero ter os valores finais amanhã. Em que pé estamos, nos contactos com o estrangeiro?”
“Fiz o documento e gostava que o visses…Nada oficial, apenas uma carta introdutória e motivadora”
Pararam por momentos para cumprimentar uns convidados
Risos, beijos, fotos e pinguins com bandejas.
“Volto a dizer, muito cuidado.
Aqui o factor surpresa é importantissimo…"
“Eu sei, eu sei…” disse Tomaz
“A nossa equipa está a portar-se bem?”
“Parece-me que sim. Têm sido pontuais nas entregas dos elementos”
“Estive a pensar, Tomaz...neste momento o Ministério não nada em dinheiro, e acho que devíamos encurtar o Meridiano. Ficamos apenas pela Europa, e não vamos até ao Pólo Sul. Percebe? O impacto é bom, mas os custos serão menores.”
“Parece-me bem. De qualquer modo é um projecto Europeu. Embora tenha carácter Universal, é basicamente nosso.”
“Nosso?”… diz Victor.
Risos...
“Meu!”... pensou cada um deles.
“Gostava de ter isso a curto prazo. Estamos a precisar de algo que nos projecte. Algo que nos faça subir na consideração do público e do partido, percebes?”
“Claro. Se o percebo…”
Tomaz, sabia que nenhum país pode ter dois Presidentes da República. Não podia abrir muito o jogo ou acabava por perder os louros do projecto.
“Tomaz, veja-me lá isso então. Continue com as cartas. Veja se temos isto a andar depressa”
“Ok, Vitor. Fique descansado”
E ambos se perderam na multidão entre os empregados, fotógrafos, “jet –chatos” e convidados, num sorver e tilintar de copos


Eram 09:45 quando o santos entrou no departamento! Ele detestava a madrugada. Isso punha-o louco.
Dirigiu-se rapidíssimo para o gabinete do Abel.Tão depressa que a sombra mal o conseguia apanhar.
“Abel, então?”
Abel, não dormira, mas tinha acabado por conseguir paginar e imprimir o famoso dossier.Tinha-se baseado nuns que ele por lá tinha visto. Os cálculos eram tão básicos que até o Santos podia fazer as contas pelos dedos sem ter de descalçar…
No final tinha bom aspecto...Parecia a sério.
“Aqui está, Sr. Santos…” Disse-lhe ele entregando o dossier, e agarrando a mochila com a outra mão.
“Abel, tu tens que ir comigo à reunião com o Sec. de Estado. Não me deixes pendurado”
“Fizemos um acordo…E não me está a apetecer desatar a abrir a goela. Percebe?”
Ainda bem que santos não andava armado. Se andasse, naquela noite de certeza, iria aparecer no noticiáio pelo homicídio de um funcionário.
Abel pegou na mochila.
Saudou o Santos, numa saudação de “Adeus…tás feito” e saiu para o velho elevador que por acaso esta semana estava ao serviço.

Até ao final do livro Abel, vai estar a apanhar sol no Seixal.

Santos estava em pânico.
Só tinha uma hipótese!
Convencer o Inácio a ir à reunião!
Isso!
Ainda tinha tempo de ir buscar o animal...
Sempre a acelarar, na sua viatura que tinha alguma tinta a corroer a ferrugem, rumou ao bairro!
Sabia que aquela hora o Inácio ainda estava deitado.
Jamais o bicho se levantava antes do Sol deixar o mínimo de sombras no chão.
Chegado a casa do amigo, apoiou-se na camapaínha atá a mulher aparecer.
“Acorde o Inácio”…disse Santos
“Ele está a descansar”
“Acorde-o, diga-lhe que sou eu.”
“Não posso. O coitado está de rastos. As Gambas não lhe caíram bem”
“Diga-lhe que eu tb não lhe vou cair bem, e ainda por cima vou-lhe cair na fraqueza”
Posto este argumento a mulher acedeu…
Santos olhava para o relógio…..
Passado uns bons 30 minutos, aparece o Inácio à porta do quintal.
“Tu estás a tripar, man ? Achas que aguento este stress?”
“Inácio, despe-te e vem comigo”
Era bem dito, porque inácio dormia com a roupa com que chegava a casa
“Vamos onde?”...perguntou.
“Ao Ministério?”
“Já fomos apanhados?” disse ele com os olhinhos mais abertos
“Não. Vamos apresentar o teu orçamento..”
“Não era melhor ires com o meu cunhado?”
“Cala-te, tens 3 minutos”
“A reunião é de cerimónia??”
“Não, porra, é de trabalho”
“Então vou assim”….e desceu a escadaria de 3 degraus do quintal, como uma diva do grande ecrãn.


Sentados no carro e a uma velocidade facturável pela polícia, Santos e Inácio, estavam a um ponto de fazer história.
Em ambos os sentidos...Ou por aprovarem o orçamento, ou por serem presos por fraude.
“Põem o cinto, Inácio”
“Não posso. Sofro de gases”
“E depois?”
“E depois, se tivermos um desastre com a pressão, isto pode transformar-se numa catástrofe tipo aquelas dos noticiários”
Uma coisa era certa o Inácio, era mesmo convincente. Se ele conseguisse vender o projecto ao Sec. de Estado, merecia uma estátua no beco do bairro.
....

Monday

Episodio XI - The Big Indromination



À porta do Ministério, Santos, com um ar grave disse a Inácio:

“Olha que se isto correr mal, enterro-te todo. Chibo-te totalmente”

“Santos, porque pode correr mal? Vim de tão longe...Saí do bairro e tudo…Achas que isto vai correr mal?”
“Era só para te avisar…” disse o Santos, rosnando...

Já subiam no elevador, depois de uma cena com a segurança por causa do Inácio não ter nenhum documento que o identificasse.
Realmente só ele acreditava que ele se chamava Inácio.

Uma rapariga nova, fresca, bem vestida e cheirosa, veio recebê-los ao elevador.

Inácio sussurrou ao Santos…
“Mene, por um ambiente destes até eu trabalhava um mesito por ano”

Chegados à porta da sala de reuniões, a secretária convida-os a entrar
...
“O Sr engº já vem…” disse.

Santos ficou de pé muito hirto, enquanto o Inácio se espalhava numa das cadeiras de pele.

“Santos, estes gajo não pode ser bom nos negócios, deixam que os clientes entrem sem ter ninguém na loja”

“Isto é um escritório, Inácio”

“Pior…Têm coisas que nem estão à venda”

Inácio rodava na cadeira e observava em redor
...
“Santos, a sala, tem 1/3 da àrea do bairro. Se fosse minha fazia já aqui umas casitas. Só esta mesa, é do tamanho da marisqueira”

“Cala-te”...Bolsou o Santos.

“Olha, lá achas que os doutoures orientam umas gambas?”….


Com ar jovial e impecávelmente vestido, Tomaz entra na sala, com os papéis na mão, que sempre transporta para não ter um ar abandalhado.
...
“Ora vivam! Estão bons?”
Santos, baixando os olhos cumprimenta a sumidade do Sec. Est.

Inácio, aperta a mão, com um ar natural.

“Ora então trazem-me os valores desta majestosa obra…Não é assim?” Disse Tomaz com um sorriso

“Permita-me que apresente o Engº. Inácio”

Santos nem acreditava no que tinha dito.
Chamou engenheiro ao Inácio? Só podia ser stress!

“Engº? Em que ano se formou?” Pergunta o Secretário de Estado?

“1987”…E não era mentira. Fora o ano em que saíra do reformatório.

Inácio era um personagem que vestia qualquer pele, e não perdeu pela demora de se misturar.

“Ó colega, já viu que a gente forma-se, depois deforma-se e no final reforma-se?”

“Já vi que tem tendências filosóficas”…Disse Tomaz com um sorriso amarelado.

“Sim” diz o Santos “Ele andou muito tempo pelo Oriente”

Também não era mentira porque se houve coisa que o Inácio toda a vida fez, foi “orientar-se”.

Santos estava para morrer.

“Então vamos ao que interessa” disse Tomaz, recostando-se na cadeira.

Santos olhou para o Inácio fazendo-lhe sinal para começar a falar

“Sr. Santos, pode entregar a papelada ao colega”

Santos, esticou a pasta ao Tomaz pensando na melhor maneira de seviciar o Inácio.

Tomaz, abriu e folheou.
Foram os 5 minutos mais angustiantes da vida do Santos…..

“Parece-me bem, mas vamos ver aqui uns pontos…..”disse Tomaz.

Santos, por um lado acalmou, por outro entrou em pânico. O “mas” era a parte pior
...
“Mas quanto tempo pensam que isto pode levar até estarmos preparados para avançar?”

“Podia ser amanhã, mas há uma questão de formação, caro colega” disse Inácio

“Formação?” perguntou Tomaz.

“Sim, há muitos que têm de ser reformados”

“Reformados?”

“Sim tem que aprender muita coisa para isto”

“Sim, parece-me bem…temos que apostar na formação. É isso que nos falta. Não se aposta na formação”…corroborou o Sec. de Estado
.
“Temos um lema: se não te formas, deformo-te”
.
Tomaz olhou para Inácio com um ar assustado…

“Bem”…disse Tomaz..”Os descobrimentos também se fizeram com mão de ferro”….

Santos estava em transe….

“Já vi o que os países que ficam no meridiano do seixal, sao 4: a Inglaterra, a Polónia, a Holanda, e a Espanha e para sul não foram definidos.
" atalhou Tomaz
“Pois não. Depois do Algarve, é tudo Marrocos e os àrabes não estão na moda. Por isso deixámos ao Ministério a escolha dos países por onde vai passar o meridiano. Mesmo que se tenha de fazer um desviozito….”

“Pois, por acaso o Ministério decidiu circunscrever o Meridiano apenas ao espaço Europeu, por uma questão de orçamento e política Europeia”

“Bem visto. Só temos de usar Euros. Trocar esta moeda por Maravedis, era bem fatela”

Santos contorce-se sem ter a certeza do que eram Maravedis….

Maravedis? Essa moeda é de onde?”

“É de longe...Abaixo de marrocos”
Tomaz, não tinha resposta…Ia sempre para Oeste, para as Caraíbas
.
Olhando para o dossier, Tomaz pergunta:
“Diga-me uma coisa, aqui os valores apenas prevêem os primeiros 100 metros de Meridiano, mas irão ser milhares mais”

“Claro…A razão prendeu-se com uma visita ao local, verificámos que o início do Meridiano, é numa curva, o que pode fazer prever uma derrapagem e os custo elevarem-se por despiste”

“Como assim?” perguntou Tomaz.

“Há uma altura em que os homens para içarem um dos postes vão ter de estar na contra mão, o que acarreta custos elevados em termos de seguros”

“Bem visto”...Atalha tomaz
.
Santos, não conseguia acreditar que aqueles dois animais estavam a comunicar…

“Mas os custos tendem a aumentar por cada km, decerto...Não é?” perguntou o Sec. de Estado…

“Colega, sabe bem que não. Estamos a desenrolar cabo, fica sempre mais barato, porque estamos a subtrair. Se o tivéssemos que voltar a enrolar é que tinha um custo enorme, porque era uma soma”

Tomaz, não podia dar parte fraca…….
Sem calculadora era um homem desarmado e contas de cabeça, não eram o seu forte.

“Aqui também não especificaram os kms totais. Acho ser um ponto importante para a avaliacão de custos globais”

“Em princípio eram 56 cms, mas devem ficar nos 24cms”
disse o Inácio...
“24 cms?”….Surpreendeu-se Tomaz

Inácio, era um erudito na arte da treta, mas consultara o Fernandes, que era professor primário e lhe mostrara a distância entre o Pólo Norte e o Pólo Sul.
No mapa eram 56 cm…
Mas na Europa, deviam ser perto de 24….
Mais ou menos 2 azulejos.

“Sim. Trabalhamos em formato reduzido, porque temos menos pessoal para não ter despesas desnecessárias. Por isso fazemos tudo em cms, e depois convertemos na nossa fórmula para espaços maiores. Poupamos muita mão de obra”

“E a nível de material humano? Como é formada a equipa?”

“Uma equipa escolhida a dedo, e alguns a punho”…..

“A punho??” perguntou Tomaz espantado…

“A punho de renda, colega” disse Inácio com um sorriso…

“Bem…Vou analisar isto com o Ministro. Vamos disponibilizar uma verba para esta 1ª fase, uma vez que baseados neste documento já estamos numa fase adiantada….mas teremos de aguardar as ordens do Ministro para vançarmos na sua globalidade. Não vos preciso de dizer que tudo isto faz parte do segredo dos Deuses.”

“Permita-me uma sugestão, caro colega…”

“Diga”

“Quando disponibilizar a verba, faça como um donativo a uma instituição do Bairro 9971. Assim poupa nos impostos e consegue-se mais uns metros de arame…”

“Mas isso não é illegal?”

“Desde quando é illegal ajudar crianças?”
Tomaz, sentiu-se a pactuar num crime…..

“Também lhe digo que esticar um varal de roupa com o comprimento da Europa deve ser crime….e a gente tenta…” disse Inácio, arrumando a cadeira.

Percebeu a analogia.
...
No fundo o Engº Inácio tinha razão
...
Tomaz levantou-se agarrou nos papéis que sempre o acompanham e nos nos novos,que eram bem-vindos e fez as despedidas...
“Santos, estou contente com o trabalho que têm prestado a esta obra.Temos uma agência de Comunicação a preparar o lançamento do evento. Vai ser uma coisa enormemente publicitada. Em todos os meios. Pela vossa parte parece-me que não temos problemas. Aguardem as nossas notícias…Mas continuem o trabalho. Um obrigado a todos.”

Santos baixou os olhos e despediu-se….

“Adeus, caro colega” disse Tomaz despedindo-se do Inácio
.
“Hasta la vista, colega” disse Inácio
.
Santos, empalideceu…

Sairam ambos do Ministério.